25 de abril de 2011

Entenda melhor o que é a raiva animal

Olá, pessoal. Hoje vamos falar sobre um assunto muito triste: raiva animal. Recentemente, bem no coração da cidade de Goiânia, no Setor Sul, tivemos um caso de um gatinho infectado por essa doença. Justo Goiânia, que não registrava um caso desses há mais de uma década! Para piorar, uma pessoa de boa vontade resolveu cuidar do pobre bichano abandonado e foi atacado pelo mesmo. O gatinho, claro, morreu, mas a pessoa passa bem.


A raiva é uma doença de animais de sangue quente causada por um vírus classificado na família Rhabdoviridae (Rhabdo significa bastão – os vírus desta família têm forma de um projétil). Os animais silvestres, como os morcegos, são reservatórios primários para raiva e os animais domésticos de companhia são a principal fonte para a transmissão da raiva aos seres humanos. A transmissão se dá pelo contato com a saliva infectada do animal raivoso e as terminações nervosas (nervos). Esse contato é mais comum pelas mordeduras ou arranhaduras. Podem ocorrer também transmissões por meio de contato da saliva contaminada e feridas recentes ou mesmo conjuntivas ou mucosas. O vírus migra através dos nervos até chegar ao cérebro (sistema nervoso central), levando o animal afetado a ter problemas de comportamento anormal ou paralisia. No próprio cérebro, o vírus começa a se multiplicar, e migra, também pelas fibras nervosas, até chegar às glândulas salivares, onde continua seu processo de transmissão.

O período de incubação (que é o período desde a entrada do vírus no organismo até o aparecimento dos sintomas) pode variar de uma semana até um ano, dependendo do local por onde o vírus foi inoculado. Por exemplo, se a mordida for na cabeça, no rosto ou no pescoço, o período de incubação é mais curto; se for em pernas ou pés, mais longo.

Os sinais clínicos podem ser: mudanças de comportamento (depressão, demência ou agressão), salivação excessiva, dificuldade para engolir, paresia, paralisia (mais comum nos herbívoros), incoordenação motora. Cães que antes eram afetuosos se tornam agressivos com seus donos, escondem-se por medo e se ficam apreensivos. Mordem qualquer coisa que estejam por perto, inclusive objetos que possam ferir, como arames farpados, objetos pontiagudos, etc. Podem ainda abocanhar objetos imaginários! Existe também a raiva muda, onde o animal fica num estado de estupor. A morte ocorre dentro de 2 a 7 dias e infelizmente é inevitável.

Animais infectados ou com suspeita de raiva devem ser isolados e colocados em observação. Após a morte, o cérebro é enviado para análise por meio de testes laboratoriais. Pessoas que foram mordidas por animais infectados ou suspeitos devem ser encaminhados para a unidade de saúde o mais breve possível, para que recebam soro anti-rábico. O tratamento não é recomendável para animais com raiva, devido ao risco da exposição humana. Já os animais vacinados que foram mordidos por animais infectados devem receber novamente a vacina e ficarem em observação durante 90 dias.

A única maneira de prevenir todo esse sofrimento é por meio da vacinação. Os animais devem receber a primeira dose da vacina anti-rábica após os 4 meses de idade, e deverão receber reforço anual. A vacina é composta de vírus vivo inativado, o que torna a vacina segura e eficaz. Entretanto, ocasionalmente (e infelizmente nem tudo é garantia de final feliz), pode ocorrer a chamada raiva vacinal, que causa um quadro falta de apetite, paresia dos membros posteriores, encefalomielite, rigidez dos membros, déficits nervosos ou demência. Por isso é muito importante que os laboratórios que fabricam as vacinas anti-rábicas tenham um rigoroso controle de qualidade de seus produtos. Como já mencionado, a vacina é a única maneira de evitar a raiva e os animais de companhia, muitas vezes são considerados membros das famílias. E ninguém, é óbvio, gostaria de perder um membro da família!

Na campanha anti-rábica de 2010 houve muitas mortes de animais após a vacinação principalmente em gatos e cães pequenos. Vários donos tiveram prejuízos em gastos veterinários após seus bichinhos apresentarem falta de apetite, vômitos, diarréia, apatia, paralisia, etc. Vacinações foram suspensas em estados do Brasil, como em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, pois logo se tomou conta da dimensão do estrago.

Mesmo com todos esses problemas é muito importante a vacinação. É uma pena que no Brasil, mesmo pagando impostos caríssimos, temos que pagar por serviços que o próprio governo oferece, como saúde, segurança, educação... e parece que agora teremos que arcar também com vacinas anti-rábicas! Vacinas importadas parecem dar menos problemas do que a vacina do governo.

Quem é dono cuida e assim evita a propagação de doenças e mortes dos animais. Manter seus bichinhos longe de situações de risco, oferecer-lhes boa alimentação e água a vontade, providenciar a atualização do calendário de vacinação, além de carinho e amor, tudo para a garantia de uma vida saudável e feliz.

Lívia Fernanda de Oliveira
Médica Veterinária
CRMV 3186
liviafernanda@gmail.com

Dra. Lívia e sua adotada, Agatha

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